‘Enxergando a duras penas’
Pés descalços andam pelo asfalto apáticos ao calor que dele emana, imundos e calejados, cuja cor se perdera embaixo da crosta de sujeira que se formou.
Mais adiante, em meio a restos de comida e lixo espalhado, uma senhora desdentada revira um latão na tentativa de encontrar algo que possa aliviar o enorme buraco que é o seu estômago.
Alguns passos a frente e meia dúzia de crianças cheiram cola e riem à toa como se estivessem numa brincadeira muito divertida, enquanto três ou quatro homens maltrapilhos perambulam por entre os carros parados no farol, a espera de ganhar um troquinho pela limpeza do vidro.
Noutro canto, um menino malcheiroso quase pele e osso, ‘perturba’ as pessoas que entram e saem do supermercado implorando por um pacote de bolacha para saciar sua fome.
Eu poderia descrever mais uma ou duas páginas daquilo que tenho visto diariamente no trajeto de ida ao trabalho e volta pra casa.
Cenas como estas tornaram-se naturais, parte do cenário que compõe a megalópole!
A miséria, a fome, o frio, crianças virando adultos nas ruas, famílias inteiras habitando viadutos, idosos doentes, homens embriagados num esforço enorme de escapar da dura realidade, gente insana necessitando de cuidado especializado... Tudo isso já não comove mais a sociedade excludente.
Uma grande amiga disse certa vez: “Como não se constranger diante da pobreza e da miséria humana?!”
Como deixar de sentir compaixão e vergonha diante dessas situações?!
Vergonha de fazer de conta que não é com a gente!
Vergonha de viver em um país imenso e repleto de riquezas naturais
onde a  pobreza, a  falta de moradia, de saneamento básico, a desigualdade social, entre outras coisas, crescem a cada dia!
Vergonha de ter como representantes nos três poderes, pessoas movidas pelo amor ao poder a qualquer custo!
Vergonha de fazer parte de uma nação que se vende e se deixa ludibriar e insiste em manter no governo cidadãos desleais e corruptos!
Vergonha de conviver numa sociedade hipócrita e injusta onde um jogador de futebol e uma dançarina de axé ganham dez vezes mais do que um professor!
"Com tanta riqueza por aí, onde é que está , cadê sua fração?! Até quando esperar?Ninguém respeita a Constituição mas todos acreditam no futuro da nação!
Que país é esse?"
  

Comentários

  1. Perfeito, é a realidade de quem vive na realidade. Pobre daqueles que se escondem da vida como ela é.

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